Série Economia e Negócios: Compreendendo a Inflação e seus Impactos
Antes de falarmos sobre a inflação, vamos falar um pouco sobre oferta e demanda. Os níveis de preços em qualquer mercado são dados pela relação que existe entre a procura pelos bens e serviços deste mercado e sua oferta. Assim, maior procura e menor oferta é igual a maiores preços e menor procura e maior oferta corresponde a menores preços.
Diante disso, podemos entender inflação como sendo um aumento geral do nível de determinados preços de bens ou serviços em um mercado, durante um determinado período. O ciclo é basicamente assim: um determinado produto em uma economia começa a ser mais procurado como por exemplo uma linha de eletrodomésticos. O preço dessa linha de eletrodomésticos tende a aumentar. Aquilo que anteriormente custava X agora passa a ser 2X. Essa variação de preços decorrentes desse aumento de demanda é a inflação, e esse entendimento se aplica a todos os produtos e serviços dessa economia.
A consequência imediata desse fenômeno é que, para comprar algum daqueles eletrodomésticos do exemplo, será necessário mais dinheiro, e para isso as pessoas necessariamente precisarão ou aumentar sua renda através de um novo emprego por exemplo, ou reivindicar aumento de salário, que por sua vez produzirá mais inflação. Uma outra alternativa é o endividamento que também provocará aumento nas taxas de juros – lembre-se: maior demanda, maior preço!
E aí começa um ciclo muito complicado de se resolver, onde o “rabo passa a abanar o cachorro”, ou seja, o próprio meio inflacionário passa a gerar mais inflação e aí voltamos naquele ambiente instável que boa parte de nossa população ainda se recorda (“e como”).
Grosso modo, é isso que temos em um ambiente inflacionário. Contudo, esse aumento de preços pode apresentar-se de dois modos: como inflação de “demanda” e inflação de custos”.
Inflação de Demanda e Inflação de Custos
Bom, no exemplo do eletrodoméstico que estamos trabalhando, no primeiro momento todos querem o tal aparelho e a consequência imediata é o aumento de seu preço. Essa é a inflação de demanda, decorrente da necessidade de consumo das pessoas e ela é normalmente consequência de um ambiente onde existe facilidade de crédito.
Também vimos que, para que as pessoas possam adquirir esse bem, precisarão de mais renda ou mais recursos. E aí surge a inflação de custos, decorrente do aumento de preços de bens e serviços necessários à produção de bens finais, tal como nosso eletrodoméstico do exemplo.
E desse movimento, tem-se a chamada inércia inflacionária, onde os preços são reajustados indefinidamente e a moeda perde cada vez mais seu poder de compra. E é nessa disputa de preços versus poder de compra que vários negócios podem ficar pelo caminho caso não saibam adotar as estratégias corretas conforme os cenários se apresentem.
E como se calcula a inflação?
Para se calcular a inflação, basicamente delimita-se um espaço de tempo em que se acompanha a variação de preços de determinado produto ou cesta de produtos. Em nossa economia existem diversos índices de inflação cada qual utilizando em seus cálculos faixas de renda diferentes, regiões diferentes, itens diferentes e períodos diferentes. Isso contribui para tornar mais segura a medição da inflação no país. Vamos aos principais:
IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. É medido mês a mês pelo IBGE, como um reflexo do custo de vida de famílias que possuem renda entre 1 e 40 salários mínimos, com base em 9 regiões metropolitanas do país.
IGP-M – Índice Geral de Preços – Mercado. É um índice de referência usado para calcular os reajustes dos aumentos da energia elétrica e dos contratos de locação de imóveis. É calculado, mensalmente, pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
IGP-DI – Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna. Seu objetivo é medir o comportamento de preços em geral da economia brasileira. Ele é uma média aritmética dos seguintes índices: IPA - que é o Índice de Preços no Atacado e mede a variação de preços no mercado atacadista, do IPC – que é o índice de preços ao consumidor e do INCC – que é o índice nacional de construção civil.
INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor. É o cálculo da medida do preço médio necessário para comprar uma cesta bens de consumo e serviços, para famílias com rendimentos entre 1 e 5 salários mínimos.
IPC-S – Índice de Preços ao Consumidor – Semanal. É calculado semanalmente, embora leve em consideração a média dos preços coletados nas últimas quatro semanas antes do fechamento. Abrange setores diversos como alimentação, vestuário, habitação, saúde, educação, entre outros.
INCC – Índice Nacional de Construção Civil. É utilizado pelas construtoras, incorporadoras, imobiliárias e bancos para calcular a correção das parcelas e saldo devedor da compra de imóveis na planta.
IPC-Fipe – Índice de Preços ao Consumidor – Fipe. Mede a variação de preços para o consumidor na cidade de São Paulo com base nos gastos de quem ganha de um a vinte salários mínimos. É um indicador da evolução do custo de vida das famílias paulistanas.
O controle da inflação
O controle da inflação é tarefa do governo. Somente ele possui os mecanismos necessários para interferir nos mercados, quer seja do lado da oferta, do lado da demanda ou do lado da moeda para ajustar essas variáveis a um nível de inflação que julgar necessário.
Uma ideia comumente difundida é a de que a inflação é ruim. Muito pelo contrário! A inflação é o caminho natural de crescimento, pois em seu conceito, como vimos anteriormente, carrega orientações de consumo, crescimento, investimentos e produção.
O seu contrário é a deflação, efeito oposto ao da inflação. Os preços caem e o desinteresse pelo consumo aumenta, quer seja por receio das incertezas do amanhã, ou ainda pelo nível de satisfação das necessidades atingidas por uma população. O Japão é o exemplo clássico onde a grande luta dos últimos governos se dá no sentido de estimular o consumo.
Aqui em nosso País, o Banco Central do Brasil estabeleceu o chamado regime de metas de inflação. Esse regime de metas é um regime monetário no qual o banco central se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva esteja em linha com uma meta pré-estabelecida, anunciada publicamente. A transparência e a prestação de contas regulares à sociedade e a seus representantes são elementos essenciais desse regime.
Quais são as distorções que a inflação causa na economia?
Uma inflação alta causa distorções na economia. Os seus efeitos refletem-se por exemplo na distribuição de renda, considerando-se que os assalariados não tem como repassar os aumentos de seus custos, reduzindo o seu poder de aquisição e impondo severas restrições orçamentárias às famílias; na balança de pagamentos provocando um aumento nas importações e uma redução nas exportações); na formação das xxpectativas onde os empresarios acabam reduzindo seus investimentos; no mercado de capitais (onde as aplicações vão sendo direcionadas para terrenos ou imóveis.
Existem também os efeitos que a inflação pode causar nas contas públicas gerando um grande desgaste devido à diferença entre o período em que foram estabelecidos os impostos e o momento propriamente dito da arrecadação desses impostos. Essa defasagem entre o fato gerador e a arrecadação é conhecida como “Efeito Tanzi”, que é o nome do economista que identificou esse fenômeno.
A inflação também causa impactos negativos nas atividades empresariais, pois diante de um cenário de alta inflação, as empresas podem encontrar muita dificuldade para realizar um planejamento econômico e, também, para realizarem novos investimentos necessários.
E como a inflação influencia a minha empresa e quais são os benefícios?
Por incrível que pareça, há benefícios para as empresas, com a inflação. Quando empresas, governos, pessoas, contraem empréstimos a juros pré-fixados, essa taxa carrega em sua essência algum nível de inflação. Se, por exemplo, a inflação subir, então, o valor real da dívida contraída pelo empréstimo, diminui. Vamos supor por exemplo que um banco empreste para uma empresa, para financiamento de capital de giro, o valor de R$ 2 milhões de reais a uma taxa prefixada de 5%, em um cenário de inflação de 2%. Agora, e se a inflação sofresse um aumento para 4%? Consequentemente, a taxa real de juros (taxa nominal/taxa inflação) paga pelo tomador do empréstimo seria reduzida de 3%% para 1%. Com isso, o dinheiro emprestado estaria valendo mais do que o dinheiro reembolsado, e a empresa sairia ganhando.
Para haver planejamento e gestão eficientes das atividades de uma empresa, ela precisa conhecer e entender o ambiente econômico no qual ela está inserida e que é moldado pelas políticas monetária e fiscal praticadas pelo governo. A economia possui “regras do jogo” que as empresas precisam conhecer para serem bem-sucedidas em uma época de inflação e flutuação econômica.
Conhecer e entender o que é Inflação, seus mecanismos e sua influência na economia, é fundamental para todo empreendedor. Os resultados da inflação na economia irão influenciar no desenvolvimento de novas diretrizes e ajustes na gestão e na governança corporativa, no dia a dia das empresas.
No próximo artigo, falaremos dos “reflexos da taxa de juros na economia”, tema importante para entendermos esse cenário econômico em que vivemos.
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