Criação de Valor: Repensando a Geração de Riqueza em Tempos de Transformação Econômica
Nos tempos modernos, “criação de valor” e “geração de riqueza” são termos que ressoam fortemente nos discursos de CEOs e líderes empresariais ao redor do mundo. Essas palavras evocam a ideia de inovação, crescimento econômico e sucesso organizacional. Contudo, em um cenário onde a globalização, a tecnologia e as finanças dominam o ambiente empresarial, surge uma questão fundamental: quem são, de fato, os verdadeiros criadores de valor? E, ainda mais provocativo, quem seriam os extratores ou destruidores de valor?
Para compreender essas perguntas, é necessário voltar a um conceito essencial que muitas vezes esquecemos no meio de planilhas e resultados financeiros trimestrais: o que realmente define valor? Em um mundo onde produtividade, eficiência e inovação são cultuadas como os motores do progresso, existe uma linha tênue que separa a criação de valor da mera extração. Este artigo, orientado para CEOs e líderes empresariais, busca aprofundar esse debate, oferecendo uma reflexão sobre como o valor é gerado, extraído e, em muitos casos, mal interpretado.
O Contexto Histórico da Criação de Valor
Para abordar o tema com profundidade, é fundamental traçar um breve histórico da economia e da teoria de valor. Há cerca de 300 anos, vivíamos em uma sociedade predominantemente agrária, e o valor era associado diretamente à produção agrícola. Os fisiocratas, economistas da época, foram pioneiros em questionar de onde o valor realmente vinha. François Quesnay, um dos líderes do movimento, desenvolveu o conceito de Tableau Économique, o que pode ser considerado uma das primeiras planilhas econômicas da história.
Nesse modelo, a sociedade foi dividida em três classes: produtiva, representada pelos agricultores; proprietária, composta pelos mercadores; e estéril, que incluía os proprietários de terras que simplesmente cobravam pelo uso de um ativo existente, sem contribuir diretamente para a produção. A ideia central desse modelo era que, se os recursos fossem excessivamente direcionados para a classe estéril, a capacidade de reprodução do sistema estaria comprometida. Em outras palavras, sem reinvestimento adequado na produção, o sistema econômico poderia estagnar.
Esse pensamento evoluiu durante a Revolução Industrial, quando economistas como Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx transferiram o foco do valor da terra para o trabalho industrial. Smith, em sua obra “A Riqueza das Nações”, exemplificou como o aumento da produtividade por meio da especialização e da inovação organizacional poderia multiplicar a produção. Seu famoso exemplo da fábrica de alfinetes demonstrou que 10 trabalhadores especializados poderiam produzir 4.800 alfinetes por dia, enquanto um trabalhador não especializado produziria, no máximo, um único alfinete. Isso evidenciou o poder do investimento em capital humano e inovação na criação de valor.
A Revolução do Valor Subjetivo
O grande ponto de inflexão na teoria econômica veio com a ascensão da economia neoclássica, que introduziu uma visão radicalmente diferente sobre o valor. Enquanto os fisiocratas e os economistas clássicos se concentravam em condições objetivas de produção, os neoclássicos voltaram-se para um conceito mais subjetivo. Para eles, o valor não era mais determinado pela capacidade produtiva, mas pelas escolhas individuais dos consumidores, trabalhadores e empresas, refletidas no sistema de preços.
A lógica era simples: o preço revela o valor. Se um produto ou serviço é vendido por um determinado preço no mercado, esse preço reflete o valor que ele tem para os consumidores. Contudo, essa abordagem trouxe implicações profundas para a forma como medimos o crescimento, a produtividade e, por fim, como direcionamos os recursos econômicos. Se o preço define o valor, qualquer coisa que tenha um preço, por definição, cria valor, incluindo atividades que, à luz de uma análise mais profunda, podem estar apenas extraindo ou destruindo valor no longo prazo.
Esse desvio do foco na criação objetiva de valor levou a algumas anomalias econômicas. Por exemplo, no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), atividades que antes não eram contabilizadas, como intermediação financeira, passaram a ser incluídas. A partir da década de 1970, as finanças começaram a crescer rapidamente em relação à economia real, um fenômeno que ficou conhecido como “financeirização”. Grande parte do capital gerado pela indústria financeira não estava mais sendo investido na produção de bens e serviços, mas sim reinvestido no próprio sistema financeiro, resultando em um ciclo vicioso de financeirização autossustentada.
O Crescimento da Financeirização e o Declínio do Reinvestimento Produtivo
Nos últimos 50 anos, vimos uma explosão no setor financeiro. Bancos comerciais e de investimento, que antes eram vistos como intermediários no processo de criação de valor, passaram a ser tratados como grandes criadores de riqueza por si mesmos. Mas será que estão realmente criando valor?
Um exemplo alarmante disso é a prática de buybacks ou recompra de ações. Empresas listadas nas bolsas de valores, em vez de reinvestir seus lucros em pesquisa e desenvolvimento, treinamento de funcionários ou expansão de capacidade produtiva, muitas vezes optam por recomprar suas próprias ações no mercado. Isso tem o efeito de elevar o preço das ações, beneficiando acionistas e executivos cujos bônus estão atrelados à performance das ações. De 2009 a 2019, mais de 460 empresas do índice S&P 500 gastaram mais de quatro trilhões de dólares apenas em recompra de ações. Esse montante, se investido no fortalecimento da capacidade produtiva, poderia ter gerado inovação, empregos e desenvolvimento tecnológico significativos.
Esse comportamento é um exemplo claro de extração de valor, em vez de criação de valor. Empresas que, teoricamente, deveriam estar impulsionando a economia com novas tecnologias e soluções disruptivas, estão, na verdade, sugando recursos de volta para si mesmas, sem contribuir para o crescimento real da economia. O resultado disso é uma queda no nível de investimento empresarial, especialmente no que diz respeito à capacitação da força de trabalho e à inovação tecnológica.
A Criação de Valor no Século XXI: O Que os CEOs Precisam Saber
Diante desse panorama, os líderes empresariais de hoje devem se perguntar: minha empresa está criando valor ou apenas extraindo valor? Essa é uma pergunta crucial para CEOs, pois a sustentabilidade a longo prazo de uma organização depende de sua capacidade de gerar valor de forma contínua e significativa, não apenas para seus acionistas, mas também para seus funcionários, clientes e para a sociedade em geral.
“A verdadeira criação de valor está na capacidade de transformar recursos em soluções que impulsionam o desenvolvimento humano, tecnológico e social, garantindo a longevidade da empresa em um mundo cada vez mais complexo.”
No século XXI, o papel do CEO vai muito além da simples maximização dos lucros. A pressão por resultados de curto prazo muitas vezes empurra os líderes a tomar decisões que sacrificam o futuro pelo presente, como a recompra de ações ou a redução de investimentos em inovação. No entanto, as empresas que realmente prosperam são aquelas que conseguem equilibrar a entrega de valor no curto prazo com o desenvolvimento sustentável no longo prazo.
Reavaliando o Que Medimos
Outra questão fundamental é como medimos o valor. O PIB, tradicionalmente usado como principal indicador de crescimento econômico, é notoriamente imperfeito. Ele não leva em consideração aspectos essenciais como a desigualdade, o bem-estar ou os impactos ambientais. Alguns países, como a Nova Zelândia e o Butão, já começaram a experimentar novas formas de medir o progresso, incluindo indicadores de felicidade e bem-estar, em vez de apenas medir o output econômico.
Para as empresas, isso significa que o sucesso não pode ser medido apenas em termos de crescimento de receitas ou lucros. Medidas de impacto social, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento humano devem fazer parte da avaliação de desempenho de qualquer organização moderna.
“Se você não está medindo o que importa, não está gerenciando o que realmente cria valor.”
O Papel do CEO na Criação de Valor Coletivo
Em um mundo interconectado e em rápida transformação, os CEOs têm a responsabilidade de liderar suas organizações para além do lucro imediato. A verdadeira criação de valor surge quando empresas trabalham em parceria com o setor público, acadêmico e a sociedade civil para resolver os grandes desafios da humanidade, como as mudanças climáticas, a desigualdade social e a revolução tecnológica.
A inovação, como a que nos levou à Lua há 50 anos, não teria sido possível sem uma colaboração entre o setor público e privado, que arriscou, investiu e inovou em áreas que vão além do retorno financeiro de curto prazo. Falhas fazem parte do processo, mas é através delas que o verdadeiro progresso acontece.
Reimaginando o Futuro da Criação de Valor
Nos dias de hoje, CEOs enfrentam desafios sem precedentes. A globalização, a digitalização e as crises econômicas exigem um novo tipo de liderança, uma que vá além da simples maximização do lucro e que realmente se comprometa com a criação de valor sustentável. Isso implica em reinvestir na produção, capacitar funcionários, fomentar a inovação e, talvez mais importante, adotar uma visão de longo prazo.
“O valor não está apenas no preço. O valor verdadeiro está no impacto que criamos para as futuras gerações.”
Abraço,
Rogério Santos
Kayros Consultoria
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