Série Economia e Negócios: Os reflexos da taxa de juros básica na economia.
Basta ligar a televisão, abrir o jornal ou algum site de notícias e vai estar lá alguma matéria falando de juros no Brasil. Afinal, além de sermos o País do futebol e do carnaval, também somos o País dos juros altos. Já desde pequenos ouvimos falar sobre eles e sentimos na pele os reflexos de sua atuação em nosso cotidiano. Mas afinal, o que são os juros? O que define o valor desses juros e porque ele tem tanta importância em nossas vidas?
Antes de começar a falar sobre a taxa básica de juros e como os juros são formados, precisamos entender o que são juros. A definição mais simples é a de que se trata da remuneração pelo uso do capital. Ou seja, quando trabalhamos recebemos por esse trabalho nosso salário; quando alugamos algum imóvel pagamos por ele o aluguel que corresponde à remuneração pelo uso deste bem; e quando vamos a um banco e tomamos algum empréstimo, pagamos além do valor que tomamos um adicional de modo a remunerar esse capital – esses são os juros.
São várias as taxas de juros em uma economia. Temos juros sobre financiamentos de imóveis, juros cobrados no crediário nas lojas de departamentos, juros do cartão de crédito, juros que recebemos nas aplicações financeiras, enfim, um sem número de nomes e taxas, mas todas elas indicando a mesma coisa – a remuneração pelo uso do capital. E a dinâmica é bem simples de entender, afinal porque alguém deixaria de comprar algum bem e emprestaria seu dinheiro se não esperasse em contrapartida lima utilidade maior do que a decorrente da compra desse bem?
Contudo, todas essas taxas tem uma raiz em comum. Todas partem de uma mesma origem para sua formação – a taxa básica de juros de uma economia, ou comumente chamada de taxa Selic. Essa taxa é definida pelo Banco Central de nosso país, e é através dela (principalmente) que o governo estabelece suas políticas monetárias ou de controle da inflação.
Se você não leu, não deixe de ver aqui nosso artigo sobre inflação
Compreendendo a Inflação e seus Impactos
Segundo o Banco Central, “Define-se Taxa Selic como a taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais. Para fins de cálculo da taxa, são considerados os financiamentos diários relativos às operações registradas e liquidadas no próprio Selic e em sistemas operados por câmaras ou prestadores de serviços de compensação e de liquidação (art. 1° da Circular n° 2.900, de 24 de junho de 1999, com a alteração introduzida pelo art. 1° da Circular n° 3.119, de 18 de abril de 2002). ”
http://www.bcb.gov.br/htms/selic/conceito_taxaselic.asp?idpai=SELICTAXA
A Selic é assim, a taxa que o mercado interbancário utiliza para financiar diariamente as suas operações financeiras, conhecida como overnight, lastreada com títulos públicos do governo federal e é a partir dela que todas as demais taxas são formadas.
A formação da taxa de juros na Economia.
Uma taxa de juros é necessariamente composta de dois elementos: uma taxa básica que reflita o custo de captação mínimo e um prêmio de risco. A taxa básica já vimos logo acima, é definida pelo Banco Central através da Selic. Já o que varia drasticamente é o prêmio de risco. Esse prêmio de risco carrega pelo menos dois componentes: o custo de oportunidade e o risco do tomador. Quanto maior o custo de oportunidade e quanto maior o risco do tomador, maiores serão as taxas de juros praticadas.
Tomemos por exemplo as taxas de juros praticadas no cartão de crédito rotativo. Essa taxa pode chegar a mais de 700% ao ano, conforme pesquisa disponível no site do Banco Central. Ou seja, considerando-se que atualmente a taxa Selic está em 7% ao ano, temos que o prêmio de risco quase 100 vezes superior. É o chamado spread bancário, correspondente a diferença entre o custo que o banco toma capital e o preço que ele empresta esse mesmo capital.
Fonte: www.bcb.gov.br
Os reflexos na Economia.
Como temos dois elementos básicos para formar as taxas de juros como conhecemos, se o governo através do Banco Central eleva ou reduz a Selic, consequentemente as taxas gerais também sobem ou descem respectivamente. Contudo, a velocidade da subida é bem maior que a da descida. No mercado costumamos falar que ela sobe de elevador e desce de escada. Ou seja, os prêmios de risco (custo de oportunidade + risco do tomador) são precificados muito mais rapidamente quando a taxa de juros básica está em tendência de alta.
Para o cidadão comum, não há muito o que fazer. Afinal, sua demanda é basicamente para custear necessidades básicas, por isso ele está diretamente exposto a essa variação de juros. Uma estratégia que pode ser adotada para aqueles que possuem recursos investidos é o realinhamento de seu portfólio para aproveitar melhor os ciclos de taxas de juros e de inflação através da utilização adequada de títulos públicos.
Já para as empresas, os movimentos na taxa básica de juros e em suas derivadas podem se apresentar sobre vários aspectos. Em ciclos de alta nas taxas de juros, o custo de produção irá subir e via de regra não há como haver o repasse integral de imediato dessa variação para o preço final de seu produto (salvo se ele for um banqueiro, daí a coisa muda!).
Juros mais altos representam maior custo de investimentos, o que pode comprometer o planejamento estratégico da empresa e adiar projetos de expansão por exemplo.
Nos movimentos de queda, as empresas podem se beneficiar, vez que, embora mais lentamente, o custo do capital também irá cair, o que facilitará a alavancagem do negócio através da tomada de crédito para capital de giro ou para investimentos em bens de capital.
A ideia é a de que à medida que uma economia atinja seu estágio de maturidade e desenvolvimento, se chegue a uma taxa de juros neutra, entendida como sendo a taxa que incrementalmente não estimula o consumo (e a inflação) e é suficiente para fomentar o desenvolvimento da economia. Mas, a depender do ciclo que uma economia vive, por fezes será necessário estimular o investimento ou inibir o consumo.
Em nosso próximo artigo vamos falar sobre produção e atividade na economia. Não deixe de nos acompanhar!
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